Na contemporaneidade, reações às mudanças sociais rápidas são geralmente acompanhadas pelo receio de que valores universais básicos não estejam sendo transmitidos às crianças e aos jovens, que vivem uma realidade onde a moralidade estaria reduzida ou deturpada. Outra percepção social é de que há um enfraquecimento dos valores e regras importantes para uma convivência harmônica. Teria a escola responsabilidade sobre isso? Ou acredita-se que esses valores somente devem vir dos modelos parentais e familiares?
A resposta, prontamente se exprime: sim, isso se intitula de educação moral! Para tanto, o cerne da questão está em definirmos um grupo de valores morais que formem as bases de um consenso, por meio do qual seja possível a construção de abordagens de educação moral que não se limitem a valores locais ou culturais.
Além disso, precisamos levar em conta como a moralidade é influenciada por outros valores sociais e considerações amorais, pois ambos estruturam os sistemas sociais e produzem os julgamentos morais dos indivíduos. É necessário, ainda, entender como se dá o desenvolvimento moral para construirmos abordagens que favoreçam o crescimento e a autonomia sociomoral das crianças, para que possam ser mais do que simplesmente crianças obedientes.
Mas de qual moral estamos falando? Em linhas gerais do senso comum, compreende-se moralidade como normas de condutas certas ou erradas. Não obstante é necessário saber o que significa certo e errado, e entender quais são os critérios utilizados para julgar o erro nas condutas de si mesmo e de outrem. Desse modo, as pesquisas têm mostrado que alguns indivíduos tratam determinadas formas de comportamento social como condutas morais universais, priorizando o bem-estar, a justiça e os direitos das pessoas; outras como sujeitas às determinações da cultura local ou convenções sociais; e outras, ainda, como uma questão de escolha pessoal.
Exemplos podem ser ilustrados: 1) criança diz que não pode bater no outro mesmo que não seja uma regra – dimensão da moralidade, pois atinge a integridade física do outro; questão moral prescritiva por independer de uma regra, isto é, uma regra universal; 2) pedir licença aos professores quando entrar na sala de aula ou pedir permissão para sair dela – dimensão da convencionalidade social, pois está condicionada à avaliação de presença ou ausência de regra social que regula o comportamento; 3) escolher a camiseta que irá vestir para passear – dimensão das escolhas pessoais, pois não interfere nos direitos de outras pessoas.
A educação moral busca compreender as fases de desenvolvimento da criança e como ela compreende e reflete sobre as regras. Em linhas gerais, podemos destacar que: uma criança de 3 anos que considera errado bater e ferir alguém, traz uma resposta moral, mas não necessariamente compreende justiça como reciprocidade, visto que justiça, nesta idade, geralmente está relacionada aos interesses pessoais da criança; a partir dos 10 anos, as crianças já entendem justiça como reciprocidade, porém ainda possuem dificuldade em coordenar seu sentimento de justiça de igualdade com noções de equidade; é na fase da adolescência e na fase adulta que se expande o sentimento de justiça para incluir a compaixão e vincular este sentimento de justiça piedosa com uma obrigação conceitualmente imperiosa para todas as pessoas.
Nessa perspectiva é que os educadores devem contribuir para o desenvolvimento de uma cidadania moral baseada na justiça e na compaixão, capaz de tornar compreensível e legítima a necessidade das convenções. Porém, é preciso levar em conta que julgamentos morais contextualizados podem requerer que a pessoa tenha a habilidade de ponderar ou coordenar considerações morais e não-morais.
Apresentado isso, o educador moral não só se mostrará interessado em desenvolver a moral do estudante e suas compreensões das convenções sociais em tais contextos, como também estará interessado em saber se o estudante está ou não consciente e se prioriza os elementos morais de tais questões ao decidir-se sobre o curso de sua ação.
Isso leva a uma reflexão relevante da educação, visto que as crianças em todos os momentos de seu desenvolvimento, são capazes de considerar questões morais sob a perspectiva da justiça e do bem-estar, então se torna importante aumentar as ocasiões em que as crianças compreendam o componente moral das questões sociais contextualizadas e os princípios que sustentam as regras. Para tanto, propõe-se algumas práticas que favorecem o desenvolvimento de um cidadão coletivamente capaz de desafiar o status quo utilizando-se de um ponto de vista moral crítico. Entre as propostas estão:
E você, percebe como a escola é um espaço privilegiado para desenvolver habilidades socioemocionais? De que forma você sente que contribui para o debate em sala de aula e para a construção de uma convivência democrática e inclusiva?
Troque ideias conosco!
Referências:
Nucci, L. (2000) Psicologia moral e educação: para além de crianças “boazinhas”. Educação e Pesquisa, São Paulo, SP, 37(1), 71-89.
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